Desenvolver a produção nacional,<br>reforçar a luta, dar mais força ao PCP

Rui Fernandes (Membro da Comissão Política do PCP)

Por mais que in­sistam, en­cu­bram e mis­ti­fi­quem, está cada vez mais evi­dente a na­tu­reza de classe desta po­lí­tica que ano após ano, go­verno após go­verno, vem sa­cri­fi­cando os tra­ba­lha­dores e o povo, des­truindo o te­cido pro­du­tivo, au­men­tando a de­pen­dência face ao ex­te­rior.

A re­cla­mação de uma nova po­lí­tica tem que ga­nhar as cons­ci­ên­cias

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Al­guns dos úl­timos dados vindos a pú­blico são disso mesmo ex­pressão: cres­ci­mento do nú­mero de mi­li­o­ná­rios em mais 600 e au­mento médio dos lu­cros da banca, nos pri­meiros seis meses deste ano, em 11 por cento face a 2009, cerca de 6 mi­lhões de euros por dia. Ao mesmo tempo que estes nú­meros vi­nham a pú­blico, en­travam em vigor os cortes nas pres­ta­ções so­ciais. Es­tamos a falar de cortes no sub­sídio so­cial de de­sem­prego, no abono de fa­mília para cri­anças com de­fi­ci­ência, na pensão so­cial de ve­lhice e de in­va­lidez, no com­ple­mento so­li­dário do idoso, na acção so­cial es­colar, no sub­sídio para a edu­cação es­pe­cial, no abono pré-natal, entre ou­tros cortes. Nada es­capa.

No con­texto das ac­ções de mis­ti­fi­cação, as­sumiu es­pe­cial in­ten­si­dade a «ope­ração stress da banca». A con­clusão, como se sabe, é que não há stress que pe­netre. A questão é que a in­ves­ti­gação de­veria ter sido sobre se eles cau­savam stress e não sobre se o ti­nham. Se assim ti­vesse sido não ha­veria dú­vidas no re­sul­tado. Que o digam os que tra­ba­lham no Al­garve, a re­gião com a maior taxa de de­sem­prego do País, para a qual muito con­tri­buem os jo­vens em idade ac­tiva com uma taxa de 28,8 por cento e as mu­lheres, com 14,5 por cento. Que o digam os quase 50 por cento de em­pre­gados no Al­garve com um sa­lário in­fe­rior à média na­ci­onal. Que o digam os tra­ba­lha­dores da pesca em­pa­re­dados entre as con­di­ções do tempo, a po­lí­tica de quotas de pes­cado e prá­ticas de pesca que ar­rasam os fundos ma­ri­nhos, mas também su­jeitos a um sis­tema de pri­meira venda em lota que pe­na­liza o pes­cador, não pro­tege o con­su­midor e fa­vo­rece as ca­deias dis­tri­bui­doras li­gadas aos grandes grupos eco­nó­micos. Que o digam o tra­ba­lha­dores da em­presa Bre­chal, em Por­timão, a braços com um pro­cesso de en­cer­ra­mento e que ti­veram de travar o ím­peto pa­tronal de re­tirar as má­quinas da em­presa. Que o digam os tra­ba­lha­dores do Hotel Mon­te­choro, que viram re­gu­la­ri­zados os três meses de sa­lá­rios em atraso em re­sul­tado de uma greve de três dias, em Julho, con­fir­mando que a luta é o ca­minho.

A ma­nu­tenção da taxa de de­sem­prego nos 10,6 por cento (que no Al­garve atinge quase os 13 por cento) num mo­mento em que os efeitos da sa­zo­na­li­dade já se fazem sentir, é in­di­ca­tivo de que pas­sado o Verão o de­sem­prego cres­cerá. O de­sem­prego cres­cerá, mas o nú­mero dos que terão di­reito ao sub­sídio de de­sem­prego des­cerá por via das novas re­gras im­postas pelo PS e PSD. Ou seja, au­men­tará o nú­mero dos que ficam com­ple­ta­mente des­pro­te­gidos. Pode Só­crates ma­ni­festar o seu usual con­ten­ta­mento e podem os pa­trões do tu­rismo con­ti­nuar a dizer que tudo vai de vento em popa no Al­garve, porque a re­a­li­dade não se al­tera por causa disso.

 

De­fender os va­lores de Abril

 

É cada vez mais uma evi­dência que não há saída para a crise sem de­sen­vol­vi­mento da pro­dução na­ci­onal, sem dig­ni­ficar o tra­balho e os tra­ba­lha­dores. E não há saída para esta des­gra­çada po­lí­tica que tem vindo a ser pra­ti­cada sem in­ten­si­ficar a luta, o es­cla­re­ci­mento e dar mais força ao PCP.

A justa re­cla­mação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda tem de ga­nhar as cons­ci­ên­cias. Uma re­cla­mação que só o nosso Par­tido pode fazer, porque ali­cer­çado na sua na­tu­reza de classe, prin­cí­pios e ide­o­logia. Um Par­tido cujo com­pro­misso é com os tra­ba­lha­dores e o povo. Um Par­tido cuja can­di­da­tura à Pre­si­dência da Re­pú­blica se in­sere e ar­ti­cula na luta em de­fesa dos va­lores de Abril e contra os pro­jectos de sub­versão em curso. Uma can­di­da­tura e um pro­jecto dis­tintos ca­pazes de atrair muitos de­mo­cratas re­al­mente pre­o­cu­pados com o rumo da vida na­ci­onal e com os pe­rigos que pairam sobre ele­mentos es­tru­tu­rantes do re­gime de­mo­crá­tico e que estão con­sa­grados na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica.  

A evo­lução da si­tu­ação na­ci­onal con­firma a jus­teza das aná­lises, pre­o­cu­pa­ções e pro­postas do Par­tido. E con­firma desde logo que não só a crise do ca­pi­ta­lismo está longe de estar su­pe­rada, como as ex­pres­sões e de­sen­vol­vi­mentos dessa crise cons­ti­tuem uma ameaça cres­cente para os tra­ba­lha­dores e os povos. O alar­ga­mento da cons­ci­ência e da luta anti-im­pe­ri­a­lista ganha por isso par­ti­cular re­le­vância. A re­a­li­zação em Por­tugal, em No­vembro, da ci­meira da NATO, para apro­vação de um novo Con­ceito Es­tra­té­gico e para amarrar os países mem­bros ao au­mento dos gastos mi­li­tares, tem de ter, e por certo terá, a ne­ces­sária res­posta dos co­mu­nistas e de muitos ou­tros de­mo­cratas amantes da paz, do pro­gresso e do de­sen­vol­vi­mento. Luta que é parte cons­ti­tu­tiva de uma in­ter­venção mais ampla em de­fesa dos di­reitos dos tra­ba­lha­dores, da li­ber­dade e da de­mo­cracia e de afir­mação da so­be­rania. 



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